[“Hoje tem!” se transformou em “Ontem teve… Morno”.]
Helena acordou atrasada. Não faz a menor ideia de como isso aconteceu ou quem desligou o despertador. Não pôde se arrumar da forma como queria, o cabelo estava oleoso, resolveu fazer um coque com uns palitos chiquérrimos que sua melhor amiga trouxe do Japão.
Deixou a franja cair delicadamente sobre a testa e olhando-se no espelho, disse: “gostei!”.
Passou rímel e batom vermelho para combinar com a esmaltação das unhas. Ao abrir o guarda-roupas, pegou as primeiras peças que saltaram aos seus olhos: uma camisa social branca de algodão e uma saia lápis preta com cinto. Um scarpin de cor nude completou o visual de um dia importante.
Ela sabia que além de estar preparada tecnicamente para fazer uma apresentação para empresários estrangeiros, sua imagem também deveria ser impactante. O mundo funciona assim.
Roni e as crianças já haviam saído, então Helena decidiu tomar café no trabalho. Com a bênção dos céus, o trânsito estava ótimo. Ela chegou a tempo para tomar um expresso com chantili e um minibrownie com castanhas na cafeteria da empresa para adoçar sua manhã.
Caminhou até o elevador e, enquanto o aguardava, seu gestor chegou. Com um sorriso radiante, ele cumprimentou Helena com o olhar… Apenas 5 segundos depois, disse: “Bom dia, Helena. Preparada para o desafio de hoje?”
Ela fez o mesmo movimento. Primeiro, saudou-o com o olhar e só depois falou: “Estou sempre preparada, gestor.” Na verdade, ela queria ter dito outra coisa. Afastou os pensamentos proibidos para não perder o foco.
Peraí… “proibidos” por quê? Era o seu segredo inconfessável: uma atração difícil de controlar. A palavra “proibido” martela em sua cabeça por causa das máximas impostas pela sociedade com as quais, inclusive, ela concordava. “Ambiente de trabalho não é lugar pa…” Ops! Onde um grupo de pessoas se reúne, todo tipo de sentimentos e de emoções podem aflorar, sejam bons ou ruins; intensos ou rasos.
O argumento de Helena para si mesma não se sustenta; ela é casada, tem filhos e uma carreira promissora pela frente. Logo não deve dar vazão ao desejo correndo o risco de perder tudo o que conquistou até agora.
[Não deve, mas pode; ela escolhe.]
Dizem que o cérebro não distingue fantasia de realidade. Pois bem… em seus momentos de intimidade sozinha e com seus fones de ouvido, ela pode ser, fazer e estar com quem quiser. Não há limites para a imaginação. Por ora, esse argumento a deixou satisfeita.
Respirou fundo. Hora de dar o seu melhor na apresentação. Encontrou numa nova troca de olhares com seu gestor a confiança para começar.
Brilha, Helena, brilha!