“Só se vive uma vez…”
Quão instigante é essa frase motivacional para Helena dar vazão aos seus desejos e se permitir fazer o que seu corpo lhe pede?
Helena titubeou. Não é mais uma adolescentezinha inconsequente fazendo o que dá na telha.
Ela quer ter liberdade como sobrenome. Sua mente trava uma batalha entre “por que sim” e “por que não” fazer. Helena decidiu parar de fingir que se importa com a moral.
Pensou mais um pouco antes de responder à mensagem do gestor, que já releu 7 vezes:
― (…) você topa me encontrar fora do escritório?
“Resposta direta, Helena; sim ou não?”, indagou-se. Digitou “sim” e, como dizem por aí, apertou o botão do f0da-se. O gestor, ansioso pelo retorno, escreveu:
― Hoje, às 18h30, no estacionamento do shopping Carpe Diem. Vamos colocar nossos carros em posição paralela, porta com porta. Te espero.
Bateu vontade de desistir. Helena fechou os olhos e imediatamente lhe veio à mente a imagem de sua família. Linda. Ela sorriu e agradeceu em silêncio sua história construída até aqui. Respirou fundo e respondeu à mensagem, sem vacilar: “Combinado”.
“Ah, vai ser só um papo, nada de mais!”
Helena passou o resto do expediente elaborando afirmações que justificassem o ato de ir ao encontro daquela criatura desejada. De repente, pegou-se rindo sozinha… Corajosa ela. Muito dona de si.
Não havia nada urgentíssimo para resolver naquela tarde. Foi então bater um papo com seu time, confirmando checklist de tarefas e esclarecendo dúvidas sobre um novo projeto.
Com a graça dos céus, a hora voou. Às 17h50, desligou o computador, pegou sua bolsa e foi ao banheiro rapidamente para retocar batom e perfume. Estava pronta. Olhou-se no espelho e disse: “Bora!’.
Ela chegou ao ponto de encontro com cinco minutos de antecedência. Enviou uma mensagem com a localização do seu carro para o gestor. Fechou os olhos e torceu para que nenhum estranho estacionasse ao seu lado.
Ainda de olhos fechados, Helena ouviu uma batidinha no vidro da carona. Era ele. Coração na boca? Teve. Falta de ar? Também. O gestor, com aquele perfume amadeirado inebriante, sentou-se ao lado dela. Os dois se olharam por 3 segundos intermináveis, em seguida ele falou:
― Você mexe comigo, Helena. Sempre me senti atraído por você. Eu entendi como uma deixa o que você disse no final da nossa reunião de hoje. Por isso resolvi me arriscar. E você estar aqui é a prova de que eu não me enganei…
Enquanto ele falava, Helena se lembrou da foto dele sem camisa, a qual viu dias atrás. Ela sorriu e se aproximou do rosto do gestor para sentir sua fragrância de mais perto. Colocou uma das mãos sobre a coxa esquerda, e a outra, no peito dele.
Esse momento pareceu uma eternidade… Quem daria o próximo passo? Seria um caminho sem volta. Seus lábios se encostaram. Ninguém recuou; na verdade, só rolou entrega. De ambos. Em um beijo quente, devagar, intenso.
Nos minutos seguintes, o mundo poderia acabar, e os dois morreriam felizes.
Mentira! Conversinha do ego.
Foi o melhor momento carpe diem já vivenciado por ela dentro de um carro.
Vinte minutos de puro deleite. Helena sentia-se plena. Cessados os toques, olhou fixamente para o gestor e disse: “Agora vamos voltar para as nossas famílias.”
Ele deu uma piscadinha e desceu do carro.
Naquela noite, Helena estava radiante. e seus meninos perceberam sua Luz. Ela estava enlouquecidamente carinhosa. Até jogou videogame com o Roni.
Helena optou pelo “por que sim”, sendo leal aos seus sentimentos. Isso bastava para sua mente e seu coração.
[E você nem queira saber onde Helena enfiou a roupa impregnada da mistura de perfumes e cheiros do encontro.]