O espaguete escondeu a verdade

Noite agradável e perfeita para saborear um espaguete “com tudo dentro” feito na panela de pressão. Doze minutos de cozimento e estaria pronto.

Helena pensou em cronometrar o tempo pelo celular, mas desistiu. Apenas daria uma olhada nos stories de um perfil engraçadíssimo no Instagram. Entre uma gargalhada e outra, perdeu a noção do tempo… Só se deu conta quando o Jean, seu filho mais velho, invadiu o quarto, dizendo: “mamãe, você deixou o macarrão queimar.”

Antes de sair correndo para a cozinha, indagou-se sobre quem ensinou o menino a acusar, assim, de repente, sem pestanejar. Estaria ela com sentimento de culpa? Imagina! Deixou a verdade escondida no espaguete estorricado.

Pegou a panela, colocou-a embaixo da torneira da pia, levantou o pino para acabar logo com a pressão (em todos os sentidos), jogou água e o vapor se dissipou. Helena não queria acreditar em sua falta de atenção e prometeu, pela milésima vez, que não misturaria o ato de cozinhar com mexidas no celular. Deu um suspiro prolongado e abriu a dita-cuja. Dava para ver as laterais com palitos agarrados. Pegou uma colher de silicone para alcançar o fundo… Havia uma gota de esperança em Helena… Como ela queria salvar aquele jantar! Não deu. Nem se jogasse creme de leite na parte não queimada salvaria aquela refeição.

Helena decidiu enfrentar de uma vez o julgamento da família. Chegou à sala, onde Roni, Jean e Pedro jogavam videogame, e disparou:

“Vamos pedir um nhoque tamanho família pelo app. Bolonhesa ou quatro queijos?” Papo reto, sem melindre tampouco mea culpa.

O pedido levou 52 minutos para chegar. Sim, ela ficou com os olhos  grudados nas redes sociais durante todo o tempo de espera. Precisava escapar dos julgamentos alheios que, simplesmente, não aconteceram. Os meninos só queriam comer. 

E comeram, em silêncio. Jean sussurou: “hoje está mais gostoso do que o pedido anterior”. Helena deu um meio sorriso, a nuvem sombria que pairava sobre sua cabeça foi embora. Roni abraçou-a por trás, no caminho para a cozinha, e disse: “pode deixar; eu lavou a louça.”

Deu uma mordidinha na lateral da orelha direita e um apertãozinho na cintura dela, depois foi cumprir a tarefa doméstica. Ambos pensaram, mas não falaram: “hoje tem!”

Helena não pegou mais o celular. Colocou as crianças para dormir. Tomou uma ducha gostosa. Lembrou-se de uma cena ardente da sua série favorita. Decidiu se deitar nua, pois as lingeries sexy estavam no cesto de roupas sujas.

Esteja a Mulher que você gostaria de ser.

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