Comunicação assertiva: uma solução acolhedora

Como atingir a “armadura” de um chefe com postura contundente e arrogante, usando uma comunicação assertiva?

Não se trata de um artigo científico acerca desse tema. Quero partilhar com você uma história real e pessoal.

Depois de ter sido gerente de uma importante livraria em Copacabana, recomecei a vida profissional como estagiária numa editora, em maio de 2003.

Minha chefe carregava os adjetivos citados no primeiro parágrafo deste texto. Todos tinham medo dela, inclusive os colegas mais próximos. 

Ninguém a confrontava por medo das reações que poderia ter. Suas broncas estremeciam a sala e, nesses momentos, um silêncio sepulcral tomava conta do ambiente.

Dezembro chegou, eu e os outros estagiários descobrimos que o aniversário dela estava se aproximando. Então decidimos fazer uma surpresa, na tentativa de desarmá-la um pouco.

Uma das meninas se ofereceu pra fazer o bolo. Estávamos ansiosos para ver a nossa chefe sorrir! No entanto, aconteceu o inesperado… ela recusou veementemente o bolo, a surpresa, os parabéns… foi um soco no estômago.

A menina que fez o bolo chorava copiosamente no banheiro. Um clima sombrio se instaurou no setor. Foi horrível!

De forma impulsiva, sem considerar os riscos que eu correria, espalmei as mãos sobre a mesa dela, olhando dentro de seus olhos e disse: 

Você não pode falar assim com a gente!

Depois da catarse, respirei fundo e voltei ao trabalho.

Um tempo depois, ela me perguntou se eu poderia conversar após o expediente; concordei. 

Com um tom pacífico, ela me contou sobre o trauma de comemorações de aniversário surgido na infância e não sabia lidar com aquele e tantos outros sentimentos.

Foram duas horas de conversa, da qual se ressignificou o laço de confiança e respeito. No dia seguinte, o pedido de desculpas à equipe foi um ato genuíno, bonito de ver.

Começamos a perceber pequenas mudanças positivas em seu comportamento. Eram bem pequenas, de fato,mas aconteciam. Uma bronca a menos, um olhar mais condescendente, um tom mais suave na fala e nos gestos…

Ei! Eu sei que não é um conto de fadas. Tive sorte? Talvez. Ela era a chefe, e eu só uma estagiária.

Foi um arrebatamento bem-sucedido.

Um ano depois, concluí meu estágio com louvor, e a nossa relação mudou para sempre! Dezessete anos se passaram, somos grandes amigas que se amam e se respeitam tanto pessoal quanto profissionalmente.

Apesar da relação amistosa, houve um grave ruído de comunicação que durou 9 anos – nove anos!. Bom, mas esse é um tema para outro texto.

O que eu aprendi com a experiência?

Olhos nos olhos + uma frase assertiva = clareza de intenção e de informação.

E depois? Acolhimento.

Às vezes, a aproximação e o acolhimento podem resolver conflitos aparentemente insolúveis. Basta alguém dar o primeiro passo.

Eu disse “às vezes”, pois não existe fórmula mágica. Há posturas implacáveis, posicionamentos agressivos, pessoas más, difíceis de lidar e de conviver. É a vida real.

Mas você aceita uma sugestão?

Para mim, a comunicação assertiva consiste em uma linguagem clara, objetiva e simples posta em ação. É defesa de princípios, valores e ideias. Portanto, os meus pontinhos de luz sugeridos para você são:

  • olhar nos olhos: em tempos de distanciamento social, deve ser pelo obturador da câmera do celular ou da webcam;
  • fazer uma asserção: “assertividade” vem de “asserção” (afirmação categórica), não de “acerto”;
  • aguardar; ouvir e acolher.  

“Às vezes”, o tom agressivo é uma espécie de armadura para proteger e sufocar uma dor. Concorda?

Não… não sou psicóloga (uma frustração!);
são apenas divagações que talvez façam
algum sentido para você também.

Ser um agente de concessão é difícil. A pergunta que não cala: “por que eu?”

Posso responder? 

Porque alguém precisa estabelecer a paz e reequilibrar a energia do ambiente.

Viver é um permanente risco de ter sucessos e fracassos.

A escolha da linguagem leva a resultados que afetam não só as nossas vidas como também a do outro.

Bora escolher a comunicação assertiva?

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