― Manhêeee, cadê a minha toalha?!, Pedrinho disse após terminar o banho rápido para voltar ao videogame.
Helena deu um pulo da cadeira, pois estava completamente entretida, jogada na cama, olhando fotos do seu gestor em uma rede social. Ela criou um perfil fake para stalkear seu objeto de desejo proibido. Não poderia deixar rastros (uma mulher nunca deixa rastros).
― Já vou levar a toalha, Pedro!
Ela deu a última espiada numa foto que, nossasenhora!, deixou-a boquiaberta. Ele não estava no papel de gestor naquela foto… Era qualquer coisa, menos profissional: sem camisa, barba por fazer, sorriso sem mostrar os dentes e um olhar hipnotizante. Helena daria tudo para decifrar aqueles olhos castanhos-claros. A foto mostrava apenas o lado esquerdo do corpo. “Ele escolheu mostrar o lado do coração… sedutorzinho barato”, pensou.
Helena perdeu a noção do tempo. Quando chegou ao banheiro com a toalha do filho, este já estava na sala jogando com o pai. “Não vou me culpar por isso, que bobagem!”, disse ela, de boas. Certificou-se de que estavam todos bem e voltou para o quarto. Precisava organizar as coisas para o dia seguinte. Deixou o celular sobre a cômoda e disse para si mesma que não veria mais foto alguma do gestor. Nem de ninguém. Tarefa árdua, mas conseguiu segurar a onda.
Roni cumpriu a promessa: quando Helena abriu os olhos pela manhã, viu seu marido velando seu sono. Ele lhe deu um bom-dia gostoso, o que despertou em Helena uma vontade louca de prolongar o momento.
“Vem cá, meu amor… Está cedo ainda.” Assim, amaram-se como há tempos não acontecia.
A manhã começou tão bem que Helena nem usou os fones de ouvido em seu ritual banheirístico. A energia feminina transbordava, e ela queria manter essa chama acesa ao longo do dia. Nesse instante, veio à sua mente a foto do gestor. Foi inevitável dar uma mordidinha em seu lábio inferior e sorrir. “Helena, não tem ninguém vendo… Permita-se fantasiar.”
Arrumou-se, passou o perfume favorito atrás dos joelhos e das orelhas, deu um beijo nos meninos e foi para o trabalho. Helena criou uma expectativa de encontrar seu objeto de desejo proibido no hall do edifício. Não rolou. Chegou ao setor, deu um giro de 360º, e ele não estava lá. Checou os e-mails para ver se havia alguma mensagem e… nada. Ela tentou se concentrar, precisava ler e assinar uns relatórios, no entanto só pensava naquela figura espetacular da foto que lhe causou uma sensação inebriante na noite anterior.
Ligou o radar mental. Queria encontrar um motivo para enviar uma mensagem a ele. “Faremos uma reunião às 13h30!”, lembrou. Morta de curiosidade, escreveu a mensagem pedindo confirmação de presença. Após dois minutos, ele respondeu que estava tudo certo.
Quem disse que Helena conseguiu almoçar? Pediu um sanduba de peito de peru e um mate pelo app de comida. O pedido foi entregue, ela olhava fixamente para o sanduíche sem vontade de comer. Estava muito tensa. Olhou para o relógio, faltavam 10 pra uma. “Dá cinco da tarde, mas não dá uma e meia!”, reclamou.
Apenas tomou o mate e esperou sentada. Queria acessar a rede social com as benditas fotos, porém não ia vacilar ali, no escritório. “E se alguém vir?! Dermelivre!”. Que momento, Helena…
Ela foi para a sala de reuniões. De repente, sentiu uma fragrância no ar… “Putz, tinha que vir logo com esse perfume amadeirado que eu amo?! Assim eu não resisto (quer dizer, resisto, sim; tá louca?)”
― Cheguei, Helena! Tudo bem por aqui? Ela gaguejou um pouco e respondeu que sim. O gestor pegou o telefone e pediu café para os dois. Na verdade, Helena preferia uma tequila, teve que travar uma luta com seus pensamentos. Respirou fundo. Duas vezes.
― Está tudo bem, mesmo, minha querida?, perguntou o gestor. Helena apenas anuiu com a cabeça.
O assunto da reunião era muito sério. Helena conseguiu focar sua atenção e encontrar, junto a ele, soluções para os casos. “E por falar em caso”, ela pensou, “que tal a gente transgredir a barreira profissional e beber algo após o expediente?”
Só pensou, mas não falou.
― Helena… Tem alguma coisa diferente em você hoje… Não sei explicar…, disse seu objeto de desejo proibido. Ela, então, comentou: “Há coisas que não conseguimos colocar em palavras, apenas perceber e sentir. Bom, voltarei ao trabalho. Qualquer coisa, é só me chamar.”
Eles se despediram. Helena se concentrou por 15 minutos em suas tarefas, depois entregou os pontos. Lembrou-se dos fones de ouvido. Por sorte, havia colocado o acessório em sua bolsa. Levou uma caneta à boca e a mordeu. “Você vai fazer isso agora?!”, um pensamento gritou. Com uma linda cara de paisagem, Helena pegou seu companheiro de prazer solitário + celular e foi para uma cabine de banheiro em outro andar do prédio. Ah! E levou a caneta.
“O que ninguém vê, ninguém julga”, justificou-se. No celular, rapidamente avançou o play para a cena quente de sua série preferida, colocou os fones, suspendeu a saia-lápis, fechou os olhos, pois queria se imaginar naquele cenário, as mesmas falas e gemidos, com o gestor. Deleitou-se, com a caneta na boca, bloqueando a emissão de sons.
Satisfeita e leve, retornou à sua estação de trabalho. Tocou o bipe de notificação. Sem desbloquear a tela do celular, ela leu a mensagem:
― Helena, estou até agora pensando no que você me disse ao final da reunião sobre perceber e sentir. Então decidi te perguntar: você topa me encontrar fora do escritório?
Uma onda de calor invadiu o corpo de Helena. Ela jogou a cabeça para trás, suspirou e afirmou para si própria:
“Só se vive uma vez.”